Serigrafia é a técnica de imprimir imagens ao fazer tinta atravessar uma tela tensionada por áreas abertas, bloqueando outras seletivamente. É um processo direto — tinta, malha, pressão — mas que exige precisão, cuidado e domínio técnico. À primeira vista, pode parecer elementar. Mas essa simplicidade aparente esconde uma das formas de impressão mais influentes do último século.
Também conhecida como silkscreen ou impressão em tela, a serigrafia envolve a criação de um estêncil — uma espécie de molde — sobre a malha. Esse estêncil define as áreas por onde a tinta irá (ou não) passar. A imagem surge quando a tela entra em contato com o suporte, como papel, tecido, madeira ou até uma placa de circuito. É nesse momento que o gesto se transforma em imagem.
Processo de serigrafia espelho - Felipe Morozini (2020)
Processo de serigrafia print - Felipe Morozini (2020)
Origens e evolução técnica
Embora o uso de estênceis exista há séculos em culturas asiáticas, a serigrafia moderna só se consolidou no século XX. Sua formalização veio com a patente registrada por Samuel Simon em 1907, aproveitando avanços em emulsões fotossensíveis e estudos sobre dinâmica dos fluidos.
Inicialmente, os estênceis eram simples máscaras de papel ou tecido. Artistas ligados ao cubismo, por exemplo, usaram esse recurso para criar áreas chapadas de cor e formas geométricas sólidas. Com o tempo, o processo evoluiu: emulsões fotossensíveis passaram a ser aplicadas diretamente à tela, permitindo registros mais precisos e duráveis.
Como funciona a serigrafia?
A técnica moderna começa com a criação do estêncil usando uma emulsão fotossensível aplicada sobre uma tela de poliéster monofilamento. Um fotolito — uma transparência com a imagem a ser impressa — é posicionado sobre a tela, que então é exposta à luz ultravioleta. A luz endurece as áreas não protegidas, enquanto as partes cobertas permanecem solúveis e são lavadas, criando os vazios por onde a tinta poderá passar.
Com o estêncil pronto, a matriz é posicionada sobre o substrato: pode ser papel, tecido, madeira ou outro material. A tinta é depositada e um rodo é puxado com pressão, trazendo a tela ao contato direto com o suporte. Ao se separar, a tela deixa uma película de tinta — um momento breve, mas essencial. O detalhe técnico é importante: não é o rodo que empurra a tinta, mas a separação da malha tensionada que determina o resultado final.
Andy Warhol
Cores, camadas e precisão
Para cada cor na imagem, uma nova tela precisa ser criada. A serigrafia pode ser feita com cores diretas (spot colors) ou com o sistema CMYK, que combina ciano, magenta, amarelo e preto para gerar gradientes e efeitos fotográficos. Impressões complexas podem exigir dezenas de camadas, todas rigorosamente alinhadas com marcas de registro.
Esse grau de precisão é o que torna a serigrafia tão admirada entre artistas, designers e colecionadores. É um processo artesanal, mas extremamente sofisticado. Reproduzível, mas nunca idêntico — cada tiragem carrega pequenas variações, impressões únicas da presença humana.
Processo de serigrafia - Felipe Morozini (2020)
Do gesto à ideia
A virada conceitual da serigrafia ocorreu com a explosão da pop art nos anos 1960. Andy Warhol transformou a técnica em linguagem artística com suas impressões seriadas de ícones como Marilyn Monroe, Elvis Presley e sopas Campbell’s. Mais do que uma técnica, Warhol fez da serigrafia um manifesto sobre repetição, consumo e imagem na era industrial.
Ao repetir uma mesma imagem à exaustão, ele questionava os limites da arte e seu papel na cultura de massa. A serigrafia se tornava, assim, não apenas um meio de reprodução, mas um campo de pensamento.
Processo de serigrafia print AVANTE - Felipe Morozini (2021)
Serigrafia na ARCO
A serigrafia tem grande apelo para nós da ARCO não apenas pela técnica, mas pela ideia que carrega: a de que arte pode ser compartilhada, multiplicada e, ainda assim, manter sua força. Enxergamos no múltiplo uma maneira de difundir pensamento, provocar o olhar e construir novas formas no mundo da arte.